GERMINAR

A Cada nascer do sol
Há esperança de ser livre
E como pássaro peregrino

Voar confiando em não ser só.


Santiago Dias

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

FLOR DO LÓTUS

VENHO DO FUNDO DAS ERAS E SEGUIREI ATÉ O INFINITO...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O BRASIL DESCONHECE O BRASIL

OS COMPOSITORES DA MPB...




Elis Regina - Foto da Web


Os compositores quase sempre amargam no anonimato. Há também milhares de cantores escondidos atrás das cortinas do esquecimento. De quando em vez, aparece um ou outro e logo depois é colocado atrás dessa pano preto. Esses criadores passam pelas ruas despercebidas por todos. Embora não estranhe por conhecer um velho ditado que diz: “santo de casa nunca fez milagre!”.

Na verdade, o que estou falando não é de nenhum milagre! O que o compositor quer mesmo é nos brindar com uma nova e bonita música. Quando ele se arrisca a entrar num estúdio e gravar, ainda assim, não há onde ou como divulgar! As emissoras, que deveriam ser públicas, aliás, são públicas, mas os cartolas que as comandam, só tocam esses trabalhos se os pobres compositores pagarem muito dinheiro. Por essa razão, esses criadores ficam com um monte de CDS embaixo do braço e seus trabalhos se perdem no tempo. Suas músicas desaparecem no vento.

Foi uma tremenda alegria quando ouvi pela primeira vez o cantor e compositor João Bosco. Que destreza, que dinâmica, que poesia! Aquela voz, aquele violão percussivo e aquele ritmo inconfundível! Foi um achado para o panorama musical brasileiro. Sem o João Bosco e seu parceiro Aldir Blanc, podíamos dizer que a MPB estava incompleta. Na mesma época, ouvi o Renato Teixeira com sua Romaria e sua poesia belíssima. Encantei-me e me deliciei com o samba refinado, de letras bem elaboradas, do visionário, quase profeta, João Nogueira e seu parceiro Paulo César Pinheiro que chegou também com seu misticismo e sua apologia à mãe África. O Milton Nascimento com sua alegria e sua tristeza do cantar encantante, juntamente com o parceiro Fernando Brant, com suas poesias mineiras, que ainda têm cheiro de terra molhada depois da chuva. A poesia musical do Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Cayme e aquele molho de ritmos bem temperados, que só o Brasil tem. O Paulinho da Viola, o Luiz Melodia, O Ivan Lins e o Vítor Martins. O Luiz Gonzaga Júnior ou Gonzaguinha, com seu grito rasgado e seu cantar de alerta e esperança. O Mestre Cartola descendo a ladeira com a serenidade que só ele tem e as rosas permanecem em silêncio. Aliás, um silêncio de paz e um silêncio de guerra. Um silêncio de desespero, um silêncio assassino! Ouvir um Chico desfiando e bordando seu canto é de dar água na boca!... A Clara Nunes com a magia e a mistura do canto afro-brasileiro. Quanta beleza! O Martinho da Vila com seu batuque, seu balanço, seu remelexo, lembrando os quilombos e nossos ancestrais! Que maravilha! O Adoniran Barbosa com sua poesia paulistana. O Zeca da Casa Verde, O Geraldo Filme, o Germano Matias. O Ataolfo Alves e muitos outros que não há como citar aqui.

Acho que naquela época o tal jabá não era o prato predileto desses exploradores dos meios de comunicação. Acredito que não era a única refeição desses bandeirantes modernos. Bandeirantes que vão desbravando o país, exterminando a cultura e nos mostrando as nádegas! Ainda bem que tivemos a sorte e o privilégio de merecer uma cantora chamada Elis Regina para enriquecer e dar ainda mais cores ao cenário artístico. A responsável por quase todos os compositores que conhecemos. Graças a pessoas como Elis, é que ainda se ouve um pouco de MPB no Brasil. Ela é quem ousou abrir as portas para os novos talentos. Será que ainda pode surgir alguém com a qualidade, sensibilidade, inteligência e a mesma dinâmica dessa cantora? Alguém para ousar abrir as portas desse painel artístico para os novos que estão de novo atrás das cortinas do esquecimento? Será?... Tomara que isso não seja só um sonho!

Há tempos, eu e outros compositores lutamos para mostrar as nossas músicas para alguns cantores que estão em evidência.
Eles parecem inatingíveis. Sempre ouço alguns revelarem que não há mais compositores no Brasil. Meu Deus será que eles são cegos ou surdos? Só podem ser!

Conheço pelo menos uma centena de bons criadores que estão morrendo no ostracismo. Algumas dezenas que gravaram e não conseguem mostrar pra ninguém, nem nos bares de música ao vivo, aceitam MPB. Noventa por cento das músicas que são executadas nas emissoras de rádio ou televisão, eu, particularmente, não mostraria nem para meus inimigos. Se é que os tenho! O que estou falando pode parecer um desabafo, mas é uma constatação. Se continuar assim, muito em breve teremos que sair do Brasil para ouvir a música brasileira. Acho que os responsáveis pelos meios de comunicação são estrangeiros, ou não têm nenhum compromisso com a cultura da nossa gente. Não posso acreditar que o cenário musical agüente por muito tempo sem mostrar a “cara” dos novos valores! Com certeza absoluta, vai surgir uma geração com inteligência para questionar esse sistema medíocre. Essa é a minha esperança!

O parágrafo seguinte é com João Sem Quase Nada. A letra é minha e a música é do magistral compositor, Emannoel de Almeida.

(Ainda nem amanheceu o dia / E lá vai João com sua enxada / Pela estrada a fora / Pela estrada / O galo que canta encantando / Ouço a passarada / E lá vai João... / É de manhã / O sol levanta / Cheio de esperança / João no roçado se Poe a cantar... / O mavioso sabiá / O bem-te-vi vendo tudo / Mal te viu / João sem quase nada / Pela estrada, pela estrada / Com a esperança e a enxada / Com inchada esperança.).

Essa canção faz parte do CD Índio Branco de Alma Negra, do cantor e compositor Mauri de Noronha. Este CD contém um trabalho lindo. Ele faz um “tarrabufado” misturando feijão tropeiro, tapioca, tutu de feijão, macaxeira, jerimum, música e poesia de bom gosto e ficou lindo.

Conheço uma música do Tom Jobim que diz: “O Brazil desconhece o Brasil...”, mas na verdade, acho que o próprio Brasil desconhece o Brasil. Aliás, o Brasil conhece menos que o Brazil. Claro, em se tratando da arte musical!


SANTIAGO DIAS
(Trecho do livro: O Plantador de Manhãs)
santiagodias13@yahoo.com.br

sábado, 27 de novembro de 2010

ESTAÇÃO DO BRÁS






É IMPORTANTE RESSALTAR QUE EU ESTOU INDO PARA PIRITUBA...


Cheguei à estação andando rápido como de costume. Nem sei porque diabos eu ando sempre correndo, às vezes não tem o menor sentido. De um jeito ou de outro cheguei à estação. Uma multidão se colocava à minha frente. Chegou o primeiro trem e todo pessoal conseguiu entrar, quando eu estava quase conseguindo, as portas se fecharam. Acabei me conformando pois eu seria o primeiro a entrar no próximo trem. Depois de muita demora quando já havia outra multidão, desta vez atrás de mim, aponta o abençoado para a alegria de todos. Quando as portas se abrem partem todos de uma vez. Do jeito que entrei saí pela porta do outro lado, sem colocar os pés no chão. De novo, as portas se fecharam e eu mais uma vez do lado de fora.


É importante ressaltar que eu estou indo para Pirituba, portanto, é no trem de Francisco Morato que eu tenho que entrar. Espero mais um tempão e finalmente consigo. Chegando à estação Barra Funda a composição parou e demorou a sair. Quando já havia uma inquietação generalizada o serviço de auto-falante anunciou: - senhores e senhoras, atenção! A composição para Francisco Morato não prestará serviço, por favor desembarcar. E repetidas vezes o funcionário promoveu este anuncio. Até que um camarada que estava espremido num canto do vagão, disse: - não prestará serviço uma ova!!! Essa peste nunca prestou!

Concordei plenamente com o desabafo do moço e sem outra alternativa, descemos todos à espera da próxima decomposição.
MAURI DE NORONHA
(Trecho do livro: Ranzinza, que está sendo elaborado)
mauridenoronha@hotmail.com
Mauri de Noronha, cantor e compositor. Fotografado por Andréia Luna

quarta-feira, 10 de novembro de 2010